quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Diálogo extraído do roteiro de Total Eclipse, 1995. Filme dirigido pela Polonesa Agnieszka Holland e estrelado por Leonardo Di Caprio, que fez o papel de Rimbaud.

Verlaine: O que você acha de minha esposa?

Rimbaud: Não sei. O que você acha dela?

Verlaine: Ela ainda é muito criança.

Rimbaud: Eu também.

(pausa)

Verlaine: (para o garçom) Dois absintos...

Rimbaud: Esse seu último livro...

Verlaine: Sim...

Rimbaud: ...não é lá essas coisas.

Verlaine: Não está falando sério.

Rimbaud: Puro lixo pré-matrimonial.

Verlaine: Não. São poemas de amor. Muita gente gostou.

Rimbaud: Não passam de uma mentira.

Verlaine: Não são uma mentira, eu amo minha mulher.

Rimbaud: Amor...

Verlaine: Sim.

Rimbaud: Isso não existe.

Verlaine: O que quer dizer?

Rimbaud: O que une as famílias e os casais, isto não é amor. É burrice, egoísmo, ou medo. O amor não existe.

Verlaine: Você está enganado.

Rimbaud: O interesse próprio existe, a união para proveitos pessoais existe, a complacência existe. Não o amor. O amor tem de ser reinventado.

Verlaine: Eu amo o corpo dela.

Rimbaud: Há outros corpos.

Verlaine: Não. Eu amo o corpo de Matilde.

Rimbaud: E a alma não?

Verlaine: Acho mais importante amar o corpo do que amar a alma, afinal a alma pode ser imortal. Terei muito tempo para a alma, enquanto a carne...

Rimbaud: (roncando)

Verlaine: O que foi? É o meu amor pela carne que me mantém fiel.

Rimbaud: Fiel. O que quer dizer com isso?

Verlaine: Sou fiel a todos a quem amei. Se amei um dia, amarei para sempre...e quando estou sozinho à noite ou pela manhã, posso fechar meus olhos e celebrar a todos.

Rimbaud: Isto não é fidelidade. É nostalgia. Não espere fidelidade de mim.

Verlaine: Aaah... por que está tão azedo comigo?

Rimbaud: Porque você precisa disso.

Verlaine: Já não basta saber que amo você mais do que ninguém? E que sempre amarei?

Rimbaud: Ah, cale essa boca, seu bêbado choramingas.

Verlaine: Diga que me ama.

Rimbaud: Ah, pelo amor de Deus.

Verlaine: Por favor, é importante para mim, diga...

Rimbaud: Você sabe que gosto de você.

Verlaine: Fiz umas compras hoje de manhã. Comprei um revólver.

Rimbaud: E pra quê?

Verlaine: Para você, para mim, para todos.

Rimbaud: Espero que tenha comprado munição suficiente pra todo mundo.

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