quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Nunca - Para uma quarta-feira de cinzas

Nunca
Nem que o mundo caia sobre mim
Nem se Deus mandar
Nem mesmo assim
As pazes contigo eu farei

Nunca
Quando a gente perde a ilusão
Deve sepultar o coração
Como eu sepultei

Saudade
Diga a esse moço por favor
Como foi sincero o meu amor
Quanto eu te adorei
Tempos atrás

Saudade
Não se esqueça também de dizer
Que é você quem me faz adormecer
Pra que eu viva em paz
Lupicínio Rodrigues/Jamelão

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Carnaval

bom carnaval

À palo seco


Por força deste destino,
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues.
Belchior

Paralelas


"...esta semana, o mar sou eu"

Belchior

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Diálogo extraído do roteiro de Total Eclipse, 1995. Filme dirigido pela Polonesa Agnieszka Holland e estrelado por Leonardo Di Caprio, que fez o papel de Rimbaud.

Verlaine: O que você acha de minha esposa?

Rimbaud: Não sei. O que você acha dela?

Verlaine: Ela ainda é muito criança.

Rimbaud: Eu também.

(pausa)

Verlaine: (para o garçom) Dois absintos...

Rimbaud: Esse seu último livro...

Verlaine: Sim...

Rimbaud: ...não é lá essas coisas.

Verlaine: Não está falando sério.

Rimbaud: Puro lixo pré-matrimonial.

Verlaine: Não. São poemas de amor. Muita gente gostou.

Rimbaud: Não passam de uma mentira.

Verlaine: Não são uma mentira, eu amo minha mulher.

Rimbaud: Amor...

Verlaine: Sim.

Rimbaud: Isso não existe.

Verlaine: O que quer dizer?

Rimbaud: O que une as famílias e os casais, isto não é amor. É burrice, egoísmo, ou medo. O amor não existe.

Verlaine: Você está enganado.

Rimbaud: O interesse próprio existe, a união para proveitos pessoais existe, a complacência existe. Não o amor. O amor tem de ser reinventado.

Verlaine: Eu amo o corpo dela.

Rimbaud: Há outros corpos.

Verlaine: Não. Eu amo o corpo de Matilde.

Rimbaud: E a alma não?

Verlaine: Acho mais importante amar o corpo do que amar a alma, afinal a alma pode ser imortal. Terei muito tempo para a alma, enquanto a carne...

Rimbaud: (roncando)

Verlaine: O que foi? É o meu amor pela carne que me mantém fiel.

Rimbaud: Fiel. O que quer dizer com isso?

Verlaine: Sou fiel a todos a quem amei. Se amei um dia, amarei para sempre...e quando estou sozinho à noite ou pela manhã, posso fechar meus olhos e celebrar a todos.

Rimbaud: Isto não é fidelidade. É nostalgia. Não espere fidelidade de mim.

Verlaine: Aaah... por que está tão azedo comigo?

Rimbaud: Porque você precisa disso.

Verlaine: Já não basta saber que amo você mais do que ninguém? E que sempre amarei?

Rimbaud: Ah, cale essa boca, seu bêbado choramingas.

Verlaine: Diga que me ama.

Rimbaud: Ah, pelo amor de Deus.

Verlaine: Por favor, é importante para mim, diga...

Rimbaud: Você sabe que gosto de você.

Verlaine: Fiz umas compras hoje de manhã. Comprei um revólver.

Rimbaud: E pra quê?

Verlaine: Para você, para mim, para todos.

Rimbaud: Espero que tenha comprado munição suficiente pra todo mundo.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Vênus

Quando a sua voz me falou: vamos
Eu vi deus sentado em seu trono: vênus
A religião que nós dois inventamos
Merece um definitivo talvez... pelo menos

Perceba que o que me configura
É sempre essa beleza
Que jorra do seu jeito de olhar
Do seu jeito de dar amor
Me dar amor

Não te dei nada que seja impuro
No futuro também vai ser assim
Se hoje amanheceu um dia escuro
Foi porque capturei o sol pra mim

Perceba que o que te configura
É sempre essa beleza
Que jorra do meu jeito de olhar
Do meu jeito de dar amor
Te dar amor

Perceba que o que nos configura
É sempre essa beleza
Que jorra do nosso jeito de olhar
Nosso jeito de dar amor
Nos dar amor

Não falo do amor romântico,
Aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão, paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
E pensam que o amor é alguma coisa
Que pode ser definida, explicada, entendida, julgada.
Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro,
Antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.Como fotografá-lo?Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor nos domine?
Minha resposta? o amor é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
O amor será sempre o desconhecido,
A força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação.
O amor quer ser interferido, quer ser violado,
Quer ser transformado a cada instante.

A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
Decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
E nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim.
Não, não podemos subestimar o amor não podemos castrá-lo.

O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha
E nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
Como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha como uma aurora colorida e misteriosa,
Como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
O amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio
Porque somos o alimento preferido do amor,
Se estivermos também a devorá-lo.

O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo,
Me aventurando ao seu encontro.
A vida só existe quando o amor a navega.
Morrer de amor é a substância de que a vida é feita.
Ou melhor, só se vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.

Paulinho Moska